Como se toda uma existência se condensa-se num momento de espera.
No café, no Museu, numa roda de amigos, em casa... Espero por algo, por alguém. Espero o entreabir de uma nova porta, de uma outra luz, de algo sempre sublime e inocente.
Todo um ritual ancestral se desencadeia nesses momentos. Tal como uma gota de água, a insustentável leveza dá lugar a uma incomensurável mansidão e tranquilidade, cada vez mais e mais sábia, cada vez mais pura. Como uma gota de chuva que graciosamente se une ao mais árido dos solos.
A arte de bem esperar um suspiro, um olhar embevecido de uma mãe orgulhosa, de dois amantes eternos... O vulto de uma promessa que se quer cumprir... A sensação do cumprimento da mais sagrada das missões.
Esperar implica aguardar, ter esperança. E é esta esperança que purifica, transformando-se em Meditação, permitindo a transmutação da Consciência.
Não tenho medo de esperar. Não tenho pressa. Percorro o corredor do quadro dos relógios moles Dalinianos, numa ânsia de que a memória persista.
Como se cada momento passado tivesse a flexibilidade de uma bailarina e me alimentasse. Busco este alimento precioso e inacessível. Mas parece estar cada vez mais perto...
Os instintos mais básicos tentam minar toda esta tranquilidade e tranformar o acto de esperar num desespero agoniante.
Espero por ti e por mim. Será que pensas em mim neste momento? Não te vejo, mas sei que existes em mim.
Consegues descrever essa espera? Eu também não. Por isso escrevo e exorciso este medo de deixar de querer esperar. Não fujas! Por favor, não te vás embora! Lê estas palavras e sente-as. E que a Luz as transporte e me faça guiar até ti...
Desta que te espera, com amor...